A Campanha da fraternidade, com 61 anos de existência (1964-2025), é o modo brasileiro de celebrar a quaresma. Ela não esgota toda a riqueza da espiritualidade quaresmal. Porém, dá-lhe o tom e enriquece-a. O espírito quaresmal nos chama à contrição e ao reconhecimento dos nossos pecados. Ora, o pecado mais perigoso de nosso tempo talvez seja a ruptura que estabelecemos entre a humanidade e a um pecado social a depredação e destruição da natureza, nossa casa comum. A atitude de cuidado coma casa comum é um dado fundamental da fé cristã. É uma exigência do Sétimo Mandamento da santa lei de Deus: “Não roubarás”. Não podemos nos
apropriar daquilo que pertence ao outro e daquilo que é patrimônio comum de todos.
Os bens da natureza têm destinação universal. O bem comum está acima dos interesses individuais. Diz o catecismo da Igreja Católica: o uso da natureza deve ser sempre acompanhado de respeito, uma vez que o mundo foi criado por Deus, seu único proprietário que, além disso, considerou que tudo era bom” (Catecismo da Igreja, n. 2417). Cada ano, recebemos um convite para viver a quaresma à luz da Campanha Fraternidade, em espírito de conversão pessoal, comunitária e social. Neste ano a Campanha da fraternidade tem como tema: FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL, e lema “DEUS VIU QUE TUDO ERA BOM” (Gn 1,31).
A campanha tem como objetivo geral: “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres da terra”. Esta campanha nos recorda o nosso papel de guardiões da criação, que colocou em nossas mãos a missão de cuidar, zelar e administrar toda a obra criadora de Deus. Somos, depredado pela ganância humana. Fixando nosso olhar em Jesus, vemos que Ele veio ao mundo para recuperar e restaurar o projeto original de Deus, que é a ordem e a harmonia que o pecado destruiu.
Por isso, é importante e necessário que estejamos atentos aos perigos constantes que ameaçam a dignidade humana e a integralidade da casa comum. Pois, “Cada criatura expressa na sua singularidade a ternura amorosa de Deus criador, redentor e santificador. Na pequenez e na vulnerabilidade de cada ser, estão presentes a grandeza e a fortaleza de Deus, que é amor e amante da vida!” (Texto base, n.23). No pontificado do Papa Francisco, receemos a Carta Encíclica “Laudato si” (Louvado seja”), primeiro documento do Magistério da Igreja plenamente dedicado ao tema socioambiental. Seu ponto de partida é “a convicção de que tudo está estreitamente interligado” (LS, n.16).
A Igreja Católica, por sua capilaridade, torna-se uma instância conscientizadora e parceira de tantos organismos nacionais e internacionais que buscam salvar o planeta. Ela, também, integra a casa comum. Por isso, tem o direito e dever de contribuir com sua reflexão na busca de soluções para o grave problema da crise ambiental e climática. O ano sabático e o ano santo jubilar (2025), presentes na Bíblia, preveem o repouso da terra, para que assim ela continuasse a ser generosa e produtiva. No sacrossanto livro do Pentateuco, a partir do decálogo, encontramos as “leis ambientais”, que são recomendações que unem a fé ao cuidado com a fauna e a flora. Que realização da COP 30, em Belém (PA), neste ano, e a celebração do Jubileu da Encarnação, em 2025, despertem nas consciências adormecidas e indiferentes, um zelo maior com a casa comum.
Cada um deve dar sua cota colaboração, realizando pequenas, mas consistentes ações, que têm grande importância e fazem a diferença. Porquanto, é preciso pensar globalmente e agir localmente. Da nova geração, espera-se o cultivo de um relacionamento mais fraterno, mais respeitoso e menos deletério com a natureza. Lembremos: juntos
somos, também, o meio ambiente!
Pe. Deusdédit é sacerdote diocesano na Arquidiocese de Cuiabá e Cura da Catedral
