Celebrações que misturam religiosidade, cultura popular e devoção a três dos santos mais queridos do Brasil e mantêm viva a herança dos missionários que evangelizaram com alegria e tradição
Junho no Brasil é sinônimo de festas juninas. As comemorações, marcadas por danças, fogueiras e comidas típicas, têm origem na fé católica. O mês homenageia três santos de forte devoção popular: Santo Antônio (13), São João Batista (24) e São Pedro (29).
A tradição chegou ao Brasil com os padres jesuítas, que viram nas festas um instrumento eficaz para evangelizar. A celebração da colheita, já comum na Europa, foi adaptada à catequese dos povos indígenas. Com elementos da cultura local, como a fogueira e o convívio comunitário, os missionários apresentavam a mensagem cristã de forma concreta, alegre e afetiva.
A fogueira, símbolo maior da festa, remete à visitação de Maria à prima Isabel. Segundo uma tradição antiga, Isabel teria acendido uma fogueira para avisar Nossa Senhora sobre o nascimento de João Batista. Já os balões, hoje menos usados por questões de segurança, simbolizam orações que sobem aos céus.
Cada santo tem uma fogueira própria: em forma de cone para São João, quadrada para Santo Antônio e triangular para São Pedro. Essa distinção mostra a riqueza dos detalhes nas expressões populares da fé.
Três santos, três histórias de fé
Santo Antônio nasceu em Portugal e tornou-se frei franciscano após contato com os seguidores de São Francisco de Assis. Grande pregador, foi nomeado responsável pela formação teológica da ordem. Embora seja muito conhecido como santo casamenteiro, Santo Antônio também era chamado de Martelo dos Hereges, graças sua habilidade extraordinária em combater e converter hereges, desmascarando suas falsas doutrinas com argumentos sólidos e milagres impactantes.
São João Batista é o único santo celebrado no dia do nascimento. Primo de Jesus, preparou os caminhos do Senhor e o batizou no rio Jordão. Denunciou injustiças, o que lhe custou a vida. É lembrado por sua humildade e firmeza na fé.
São Pedro foi o primeiro papa. Após negar Jesus três vezes, reafirmou sua fé e assumiu a liderança da Igreja. Morreu mártir em Roma, crucificado de cabeça para baixo por não se considerar digno de morrer como Cristo. Seus restos estão sob o altar da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Celebração da fé em forma de festa
As festas juninas preservam um caráter comunitário e religioso. No Nordeste, são tradição viva, com quadrilhas, música raiz e visitas a casas com mesa farta. A devoção popular se une à cultura regional, com símbolos como bandeirinhas e comidas típicas. Na Arquidiocese de Cuiabá as festas juninas nas comunidades e paróquias também combinam fé e devoção, e reforçam que a evangelização, a solidariedade e fortalecimento dos laços comunitários se dão com tradicionais celebrações.
A quadrilha, com seu ritmo marcado, remete à organização e alegria da vida comunitária. Os ritmos nordestinos, como o baião, tornam-se trilha sonora da fé vivida de forma festiva.
As festas juninas, além de expressão cultural, são manifestação do sagrado. Reúnem história, tradição e religiosidade popular, lembrando que, mesmo nas danças e nas comidas, a fé está presente.
Texto: Eduardo Cardoso