Todos os anos, no fim do tempo pascal, somos embalados pelo sonoro e tradicional hino do Senhor Divino (maestro João Marinho- 1906): “Abra a porta da Igreja Matriz. Bate o sino esmola Divino. Romaria em rente à Igreja, aguardando a chegada do santo…Beije a bandeira, tenha muita fé; faça a promessa com muito louvor, o Divino Espírito Santo é de Cuiabá”. Este hino, na ingenuidade e singelezas de suas palavras, expressa um grito incontido da alma, uma saudação, uma invocação cheia de fé, de fervor e confiança no Divino Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade.
Esta multissecular festa do Senhor Divino, da Catedral de Cuiabá, é uma grandiosa sinfonia de afetos humanos, congraçamentos e bênçãos Divinas. É um patrimônio espiritual e cultural de Cuiabá, comemorada desde os tempos da Monarquia imperial brasileira. Foi trazida para o Arraial do Senhor Bom Jesus durante a ocupação desta região
pelos indômitos bandeirantes. Esta celebração já passou por diferentes fases, formas e manifestações, de acordo com a evolução histórica e metamorfose dos tempos.
Passou pelas carruagens, cavalarias e touradas do campo D’Ourique, até entrar na contemporaneidade marcada pela modernização da cidade e pelo advento da Internet, instrumento que bombeia a festa, hoje, nas redes sociais. Este evento religioso foi sempre marcado pelo brilhantismo e esmero, tanto na fase de preparação como na sua realização. A festa começa com a novena mensal na residência dos devotos, nove meses antes da solenidade (Pentecoste).
A novena é marcada pelo fervor espiritual e piedosa participação, seguida de uma confraternização dos devotos. A novena do Senhor Divino, tem sua origem e inspiração no evangelho (At 1,4-14), quando o próprio Jesus pediu aos discípulos que permanecessem um tempo juntos, unidos em oração, até que recebessem o Espírito Santo prometido. Durante a novena comunitária na Catedral, acontece a peregrinação das Bandeiras pelas ruas da cidade, chamada “esmola do Senhor Divino”.
A grandiosa e esperada festa do Senhor Divino, no dia de Pentecoste, é comemorada com a missa de ação de graças, piedosa procissão luminosa, escolha da nova corte e animada quermesse. Alguns símbolos marcam esta rica e antiquíssima religiosidade Cuiabana: a Corte, designa a comissão de coordenação da festa; A Bandeira do Senhor Divino, de cor vermelha, simboliza o fogo que desceu sobre os apóstolos e a virgem Maria (At. 2, 1-4).
A coroa: nas solenidades festivas, é usada pelo imperador e imperatriz e, nas esmolas, pelos presidentes de bandeiras e seus integrantes, para imposição sobre as cabeças das pessoas visitadas. Salva: Bandeja de prata que serve para sustentação da coroa e do Cetro.
Cetro: simboliza o poder de mando e decisão do imperador na direção da festa.
Pão Bento: Uma antiga tradição revela que as famílias guardavam em um saquinho, nas vasilhas de mantimentos, o pão que recebia na visita da bandeira, acreditando que, com isso, atrairia a abundância de alimentos e fartura.
Medalhas do Senhor Divino: essa medalha contém a imagem da pomba que representa simbolicamente o Divino Espírito Santo, o defensor. As medalhas, após serem abençoadas, são distribuídas aos fiéis com objetivo de proteger as pessoas e livrá-las dos males.
A Bíblia nos ensina que há um só Deus em três pessoas, com igual substância, natureza e majestade. Na intimidade trinitária, o espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. A teologia católica nos ensina que o espirito Santo, não trouxe nenhuma doutrina nova, como está escrito: “Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará’(Jo16,14). Mas veio clarear, atualizar e universalizar a mensagem do Senhor Jesus, palavra eterna do Pai no mundo. Lembremos as sábias palavras do profeta Joel: “Naquele dia derramarei o meu espírito sobre todos: vossos filhos e filhas profetizarão.
Farei prodígios no céu e na terra” (Joel, 3,1-3) e do apóstolo Paulo: “Não sabeis que o Espírito Santo habita em
vós? (1Cor 3,16). Guardemos a docilidade e obediência ao Espírito Santo, nosso guia e defensor.
Pe. Deusdédit Monge é sacerdote arquidiocesano e Cura da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá